Querido leitores,
Há uns meses atrás eu Ainoã Scatolin participei de uma entrevista para o Jornal Nosso Tempo, cujo tema era: “50 TONS DE POLÊMICA – Como uma trilogia pornográfica acendeu a discussão sobre um tabu no meio cristão”. É pecado ler publicações desse tipo? Que consequências pode trazer para o casamento? Leia na íntegra:
“Um empresário bem-sucedido e milionário, lindo, doce e atencioso com a família, com carros de último tipo, helicóptero, barcos e ainda solteiro. Sim, vestido de príncipe encantando das princesas modernas, Christian Grey é o protótipo de homem ideal. Seria um romance comum, do tipo água com açúcar e tão popular quanto os livretos das décadas de 1960 a 1980 – que vendidos em banca prestavam-se a alimentar os sonhos românticos de muitas moças – se não fossem as ideias apimentadas inseridas por E. L. James, autora que ficou conhecida do dia para noite, após o sucesso de sua trilogia 50 tons.
Internacionalmente conhecido pelo gênero mummy porn, ou pornô para mamães, os livros arrebataram milhões de fãs, que esperam ansiosas o lançamento da versão cinematográfica da série. Na verdade, o bom moço é um sadomasoquista que, entre outras coisas, tem em sua cobertura uma sala específica para esse tipo de prática e relaciona-se somente com garotas que assinem um contrato de submissão. Pode parecer estranho, mas muitas mulheres, além da protagonista Anastácia Steel, apaixonaram-se por esse homem e foram a fundo numa saga de três livros para descobrir o desfecho da trama.
O que pode estar por trás do interesse feminino em pornografia, campo até então dominado pelos homens?
Para Daniela Marques, autora dos blogs Vida de Mãe e Salve meu casamento, que há quase três anos anos aconselha casais virtualmente, com a chegada do feminismo muita coisa começou a mudar. “As mulheres passaram a ter acesso a coisas antes proibidas. A pornografia foi uma delas. Hoje, é muito difícil dizer: este pecado é mais cometido por homens e este, mais por mulheres”.
O livro pode ser considerado pornográfico, porque ao contrário do conteúdo erótico, onde o sexo é somente implícito, nas mais de 300 páginas de cada volume, o que se tem é material explícito. Enquanto o livro causa inquietação em alguns cristãos, há quem opte por lê-lo. E os motivos encontrados para o interesse podem ser bem diferentes do que o mais óbvio.
V. Brito, empresária, 31 anos, leu toda a saga e gostou do conteúdo. – “O que eu mais gostei foi do romance. Um amor impossível, o fato de o protagonista ter encontrado alguém para amar, abrindo sua mente e curando medos e traumas. Eu não gostei dos detalhes sobre o relacionamento sexual e o livro não produziu nenhuma mudança em meu comportamento”, afirma.
“Quando as mulheres pensam em sexo, as cenas são recheadas de detalhes e romantismo. O sucesso do livro está totalmente relacionado aos estímulos que ele traz durante a leitura. Quantas mulheres frustradas não se realizaram lendo o livro imaginando-se no lugar da protagonista?”, enfatiza Daniela. Para a conselheira, o problema não está na leitura do material, e sim, na mudança que isso pode trazer, principalmente para o relacionamento a dois. – “A real preocupação deve ser com o vício em conteúdos pornográficos e eróticos, ou seja, a substituição da relação com o parceiro por qualquer material do tipo. Se o casal precisa de pornografia ou conteúdo erótico para se satisfazer sexualmente, é porque algo não está bem”, explica.
Enquanto muitas pessoas enxergam na pornografia uma chance de melhorarem seus relacionamentos sexuais, o efeito pode ser exatamente o contrário. Karyne Lira, psicóloga, acredita que estímulos provocados por essas leituras, podem realmente deixar mulheres mais dispostas para o sexo, porém, não sem consequências. “Por meio de leituras ou imagens, o uso de pornografia pode trazer prejuízos. Um aspecto que vale ressaltar é que aquilo que contemplamos, sejam leituras ou imagens, influenciam nosso olhar, atitudes e comportamentos, pois funcionam como modelos. E, no caso específico do livro em questão, não vejo grandes vantagens para mulheres admitirem os modelos fornecidos ali”.
Porém, ela ressalta que essa é uma visão particular e não de todos os psicólogos, cada um com base em seus referenciais teóricos. “De modo especial, para pessoas que possuem crenças religiosas que estão associadas a um determinado padrão de atitudes morais, a utilização de recursos pornográficos, como a leitura do livro, pode ser mais perturbadora do que vantajosa e, neste caso, ainda mais prejudicial”, destaca.
O papel da Igreja
O contato com conteúdo pornográfico é muito comum na vida dos casais cristãos e, segundo Daniela, isso gera muitos problemas. Uma pesquisa realizada pelo Bureau de Pesquisa e Estatística Cristã (BEPEC) entre casais evangélicos revela que 32% dos entrevistados possui o hábito de acessar pornografia. Já entre os jovens solteiros, a porcentagem sobe para 67%.
V. Brito, que recomendou a leitura para amigas maduras, desabafa dizendo que a atitude de proibição por parte de pastores e instituições religiosas acaba mascarando a evidência de problemas, ao invés de resolvê-los. “Uma grande porcentagem das pessoas dentro da igreja tem problemas com pornografia, e os pastores poderiam lidar com o assunto mais abertamente, ao invés de simplesmente proibir tudo. Além do que, proibir acaba incentivando mais o ato e a procura. Se os temas fossem abordados com mais sinceridade, talvez não houvesse tanta curiosidade sobre o assunto”.
Daniela ainda defende que a religião foi uma das grandes responsáveis pelo fracasso na vida sexual de muitos casais, pois durante décadas inculcou na mente dos fiéis que sexo era algo impuro, inclusive entre os casados. “Alguns líderes religiosos fazem isso até hoje! E as mulheres, com receio de pecarem, reprimiram seus desejos e esfriaram na cama. Já os homens, por questões fisiológicas e pelo machismo, acabavam se satisfazendo de outras formas: prostitutas, pornografia ou masturbação. Uma grande hipocrisia. Acho primordial que os casais tenham consciência de que não há necessidade de pornografia ou literatura erótica para chegarem ao clímax ou realizarem suas fantasias. Isso pode e deve acontecer com o seu próprio cônjuge!”, conclui”.
Originalmente no Jornal Nosso Tempo, por Ainoã Scatolin – Março, 2013.
Fonte: Salve meu Casamento.
Via: www.macelocarvalho.com.br